30/12/2008

Rotinas I

De malas quase prontas para voltarmos aos Dias Santos, aqui!

PS: com a prole a aumentar, este ano já somos 20 adultos e 20 crianças. Acho que para o ano arriscamo-nos a ficar em minoria!

27/12/2008

O que sobra do meu Natal!

A mesa impecavelmente posta e o cheiro intenso da sopa de Natal - a sopa de bacalhau e couves, que a minha avó materna fez para o meu avô no 1º Natal pós casamento e que se tornou tradição na família, hoje, divinalmente assegurada pela minha mãe .
Lá longe, ficaram os jantares do dia 24 a acabar a tempo de não perder a Missa do Galo, com o seu cheiro a incenso, a naftalina e a perfumes doces. O regresso a casa e o sapatinho colocado no presépio com uma oração antes de ir para a cama. A alegria da manhã do dia 25, a passagem pelo café na Versailles e o almoço na outra família. E ainda, tempo a sobrar para acabar o Natal entre amigos!
Porque é que agora é tudo a correr ?, desde os preparativos, as refeições, a abertura dos presentes, os dedos arranhados de tantos arames desemaranhados, “arrumar a trouxa” e voltar para casa carregada de plástico e pilhas, tantas pilhas e que nunca chegam, respirar fundo e começar tudo outra vez no dia seguinte… Eu só pergunto, meu Deus, quando é que vou conseguir passar para os meus filhos a magia do Natal que eu vivi antes deles?! Angustia-me pensar nisso porque estou convencida que assim não vou lá…

23/12/2008

Natal Feliz

O "nosso" Menino Jesus, este ano, chegou mais cedo!
O Natal da Sophia vai ter um encanto especial, mesmo passado em enfermaria, berçário, entre batas, técnicos de saúde, tudo envolto em ambientes assépticos, a verdade é que já tem o seu bebé nos braços!
Presépio /Presente do Tiago, do colégio

19/12/2008

"A" Festa de Natal!

Eu adoro estas Festas de Natal!

Numa semana em que tenho andado particularmente a "mil", tive o momento de ouro, ao ver o meu filho de 4 anos, encarnar um senhor Scrooge na PERFEIÇÃO, do principio ao fim!
Quem conheceu o Ricardo sabe que ele tem a quem sair...transbordou talento, postura, atenção e o mais importante - indiscutível sentido de humor!
E eu, claro...babei!

18/12/2008

Jørn Utzon, o mestre e o espírito do lugar

Durante muitos anos, foi uma referência de estudo do atelier, com a suprema beleza dos fundamentos da arquitectura orgânica de Frank Lloyd Wright ( inclinar reverencialmente a cabeça quando se fala DO GRANDE MESTRE), temperada pelo profundo conhecimento dos materiais dos nórdicos como Alvar Aalto ( mais uma reverência, por favor). Nascido na Dinamarca em 1918, filho de um distinto arquitecto naval, o que explica muito da sua obra, é talvez mais conhecido pela Ópera de Sidney, o que só por si, constitui uma verdadeira epopeia , a história do concurso e construção deste notável edifício. Pritzker de arquitectura em 2003, as minhas preferências na sua obra vão para as Fredensborg Housing, de 1962, um conjunto residencial com espiríto comunitário para seniors, perfeitamente adaptado ao terreno e às curvas de nível, constituído por unidades de moradias unifamiliares concebidas na horizontal, com tipologias em pátio. A concepção do projecto atinge o equilíbrio perfeito entre espaço privado e espaço público, interpretando e respeitando sempre, o espírito do lugar.

12/12/2008

Parabéns Arquitectos Portugueses - Prémio Pessoa 2008

Carrilho da Graça é o segundo arquitecto a receber o prémio Pessoa, o primeiro foi Eduardo Souto Moura em 1998, que nem por acaso faz parte do actual júri. É um prémio da dita sociedade civil, que premeia um percurso individual com contribuição relevante nas áreas artísticas, cientifícas, literárias , etc..
É merecido pelo percurso como professor ( ainda no meu tempo de Universidade Técnica no Chiado, antes de sair na "purga" do excelso Taveira, director na altura), e como arquitecto, com uma obra vasta e muito interessante, já com alguma dimensão internacional. Relembro uma divertidíssima visita de estudo a Portalegre à volta de algumas obras do Carrilho da Graça, orientada pelo arq. João Rodeia, nosso professor de Teoria da Arquitectura, em que me impressionaram bastante as piscinas municipais de Campo Maior, muito no espiríto corbusiano, emoldurando a paisagem alentejana, já lá vão quase 20 anos! Gosto muito do espaço do Pavilhão do Conhecimento dos Mares, particularmente do percurso do acesso exterior feito pela rampa encerrada no pátio quadrado, o mais recente espaço museológico do Museu do Oriente, não me convenceu particularmente, para além da cenografia dos espaços expositivos, que é feita através da manipulação em forte contraste, da luz e da sombra. Magnífica é a intervenção depurada no Palácio de Belém. Vale a pena conhecer a obra deste autor, honra seja feita também a Lisboa e aos seus arquitectos.
Já agora, um pormenor surpreendente, será que J.L.Carrilho da Graça, trabalha orgulhosamente só? É que não consigo vislumbrar uma equipa de trabalho na sua apresentação... Notável para uma obra de "autor" tão vasta! A sociedade civil espanta-se e rende a merecida homenagem!

10/12/2008

A Mãe Natureza e a ciência na hora H

E quando a médica de saúde materno-infantil, nos olha nos olhos e diz com uma expressão prenhe de significados indecifráveis... A hora aproxima-se, não é verdade? Está na sua cara!
O meu mundo tremeu! Habituada a ouvir destas, todos os dias, logo pela manhã, enquanto me passeio no mercado de rua, entre couves e flores, nabos e laranjas, carapaus e sardinhas a luzir por entre cubos de gelo a derreter.. Oh D. Sofia! Está para já! Barriga larga é rapariga, barriga prá frente é menino! Que a sua hora seja curta, e lá vem o relambório das desgraças próprias, das amigas, vizinhas e conhecidas...Tudo temperado com muita mão na ilharga, gritos, palavrões (de fazer corar as pedras da calçada!) e gargalhadas festivas!
Lembro-me logo de outras histórias divertidas, da minha mãe urbano depressiva que num acesso nostálgico de outra vida, sempre disse que uma das minhas irmãs nasceu em simultâneo com os bezerros e os cordeiros na quinta da minha avó, que é na mudança de lua, basta consultar o calendário! Do pai da criança que dando cotoveladas cúmplices à médica, me assegura que naaaaaão, que está tudo muito normal!...Claro que é nas luas, ÓBVIO! Está tudo explicado no almanaque Borda de Água....já agora!
Na verdade, por muito que me esforce por ter uma atitude racional, não consigo espreitar o calendário com as mudanças de marés e a sua influência nas luas e nos animais...o que de certa forma me encanta e assusta, Mãe sob influenza da mãe natureza! Mães, mulheres e fêmeas parindo em simultâneo no mesmo chamamento universal... Por muito assépticos que sejam os nossos hospitais e enfermarias, berçários e técnicos de saúde, por debaixo das batas e atrás da pose científica, basta procurarmos um pouco, e encontramos ares de..., calendários lunares, influências astrais, palpites e uma parafernália de delícias de outro mundo.

Ofendido ou Perplexo?

O que terá ficado a pensar o senhor que costuma estar à porta do Mc Donald`s da Av. de Roma quando o Francisco hoje, depois de lhe dar uma moedinha (que pediu insistentemente ao avô) do “alto” dos seus 7 anos lhe diz:

“-sabe, meu senhor, eu sei de uma maneira para não ter que estar aqui ao frio a pedir esmola. É ir trabalhar para ganhar o seu dinheiro.”

06/12/2008

A Metáfora da Cegueira

"Ao sair dali, seguiram-no dois cegos, gritando: «Filho de David, tem misericórdia de nós!» Ao chegar a casa, os cegos aproximaram-se dele, e Jesus disse-lhes: «Credes que tenho poder para fazer isso?» Responderam-lhe: «Cremos, Senhor!» Então, tocou-lhes nos olhos, dizendo: «Seja-vos feito segundo a vossa fé.» E os olhos abriram-se-lhes." Evangelho segundo S. Mateus 9,27-30.

Metáfora lindíssima...Ontem na missa, lembrando os 10 anos da Passagem, foi esta a leitura do Evangelho.
Na curta homília que se seguiu, o padre apenas pediu para que os nossos olhos fossem abertos e não cegos para a luz e para o bem, e convidou-nos à reflexão.

Ensaio sobre a Cegueira, Fernando Meirelles e Saramago

Fui vê-lo com o meu filho, cheia de reservas. Faz agora 10 anos que li o livro, achei-o pesado, sufocante e deprimente, com uma visão metafórica esgotante senão pretensiosa, aparte as minhas embirrações com o autor. A altura em que o li, coincidiu com um momento trágico da vida familiar, em que o sofrimento, a morte e a perda nos avassalou pela primeira vez, violentamente. O que obviamente, não favoreceu a leitura desta obra do nosso Nobel...nem a memória associada a esta data.
Na verdade, a realização de Fernando Meirelles, foi o motivo que me levou a vencer uma repugnância inicial e decidir-me ir vê-lo, perante a insistência do meu filho adolescente (?o tal nurd dos computadores?). A memória, ainda recente, da adaptação ao cinema do livro de Jonh Le Carré, de O Fiel Jardineiro, encheu-me as medidas, coisa rara neste capítulo, gosto do livro, não gosto do filme, é a regra...
Conclusão, gostei muito do filme e o nurd ficou siderado, o filme entrou directamente para o seu top five.
Nas mãos de um artista como Fernando Meirelles, a metáfora da epidemia da cegueira branca, é revelada através de imagens cruas, violentas e poéticas, coadas por uma luz branca, muito bela. Julianne Moore, que eu nunca apreciei devidamente, é aquela actriz madura que se transfigura numa mulher/anjo (em terra de cegos, quem tem olho, é rei), que assume o peso e a responsabilidade matriarcal de cuidar dos seus (os bons), e os conduzir num mundo abandonado pela civilização ( e por Deus) aos instintos mais primários da sobrevivência, a um abrigo, um porto seguro. E por aí fora, como metáfora, prefiro a de William Golding do "Deus das Moscas", também Nobel, por coincidência.
E já agora pergunto, o que é que o cinema brasileiro tem, que o nosso não tem?

02/12/2008

Kostia, Constantino Dmitrievich, Levine, o alter-ego de Tolstoi e o encontro com Deus

-As pessoas não se parecem umas com as outras, Constantino Dmitrievich. Há aqueles que que vivem para a barriga, e aqueles que pensam em Deus e na alma.
-Que queres dizer com isso?-quase gritou Levine.
- Viver para Deus, observar a sua lei. As pessoas não são iguais. Por exemplo, do seu lado também não viria mal ao pobre mundo.
-Sim, sim... até logo- balbuciou Levine, ofegando de emoção. E, voltando-se para agarrar a bengala, dirigiu-se a passos largos para casa. «Viver para a nossa alma, para Deus.» Estas palavras do camponês tinham achado eco no seu coração; e pensamentos confusos, mas que ele sentia fecundos, escapavam-se de qualquer recanto obscuro do seu ser para o deslumbrarem com com uma nova claridade.
(...) Eu e milhões de homens, no passado e no presente, tanto os pobres de espírito como os doutos que perscrutaram estas coisa e fizeram ouvir a propósito disto as suas vozes confusas, estamos de acordo sobre um ponto: que é preciso viver para o bem. O único conhecimento claro, indubitável, absoluto que temos é este; e não é pelo racíocinio que lá chegamos, porque a razão exclui-o, pois ele não tem causa nem efeito. O bem, se tivesse uma causa, deixaria de ser o bem, tal como se tivesse um efeito, por exemplo uma recompensa....Isto sei-o eu e sabemo-lo todos. Pode haver maior milagre?