06/12/2008

Ensaio sobre a Cegueira, Fernando Meirelles e Saramago

Fui vê-lo com o meu filho, cheia de reservas. Faz agora 10 anos que li o livro, achei-o pesado, sufocante e deprimente, com uma visão metafórica esgotante senão pretensiosa, aparte as minhas embirrações com o autor. A altura em que o li, coincidiu com um momento trágico da vida familiar, em que o sofrimento, a morte e a perda nos avassalou pela primeira vez, violentamente. O que obviamente, não favoreceu a leitura desta obra do nosso Nobel...nem a memória associada a esta data.
Na verdade, a realização de Fernando Meirelles, foi o motivo que me levou a vencer uma repugnância inicial e decidir-me ir vê-lo, perante a insistência do meu filho adolescente (?o tal nurd dos computadores?). A memória, ainda recente, da adaptação ao cinema do livro de Jonh Le Carré, de O Fiel Jardineiro, encheu-me as medidas, coisa rara neste capítulo, gosto do livro, não gosto do filme, é a regra...
Conclusão, gostei muito do filme e o nurd ficou siderado, o filme entrou directamente para o seu top five.
Nas mãos de um artista como Fernando Meirelles, a metáfora da epidemia da cegueira branca, é revelada através de imagens cruas, violentas e poéticas, coadas por uma luz branca, muito bela. Julianne Moore, que eu nunca apreciei devidamente, é aquela actriz madura que se transfigura numa mulher/anjo (em terra de cegos, quem tem olho, é rei), que assume o peso e a responsabilidade matriarcal de cuidar dos seus (os bons), e os conduzir num mundo abandonado pela civilização ( e por Deus) aos instintos mais primários da sobrevivência, a um abrigo, um porto seguro. E por aí fora, como metáfora, prefiro a de William Golding do "Deus das Moscas", também Nobel, por coincidência.
E já agora pergunto, o que é que o cinema brasileiro tem, que o nosso não tem?

2 comentários:

maria inês disse...

Detestei o filme. Fui vê-lo ontem. Esclareço, não detestei o filme, detestei aquilo que o filme me fez sentir. Uma angústia, como julgo nenhum outro (filme) ter provocado.
E, by the way, também gosto muito de cinema brasileiro.
bj

sophia disse...

É o efeito Saramago, a depressão total,... mas o Fernando Meirelles vale sempre a pena!
bjs