Louvor do lixo

Adília Lopes

MEMÓRIA

Amar o perdido

deixa confundido

este coração.

Nada pode o olvido

contra o sem sentido

apelo do Não.

As coisas tangíveis

tornam-se insensíveis

à palma da mão.

Mas as coisas findas,

muito mais que lindas,

essas ficarão.

Jantar só com Elas

Faltou a Sininho às voltas com a sua grande penca doente. A anfitriã , sempre esplendorosa com o seu jeito de ser, naturalmente Sexy e Sem o Saber, eu estava na minha nova pose de tia-vovó, camisola preta de gola alta com brilhos de lantejoulas a alternar com os buracos das traças, com expressões cada vez mais maníacas, provavel empilhadora de pallettes em armazém de móveis de estilo sueco, com beata ao canto da boca, segundo a nossa Femme a Treinte-ans, que por sinal, se apresenta cada vez mais sofisticada e moderna, com o seu cabelito cortado pelo Tio Sam o Magician, coiffeur parisien em casas particulares, ateliers ou o que estiver à mão, e tudo pelo custo módico de um rim. Em que se divagou sobre o teu corte à fada Sininho e sobre tintas para cobrir os brancos, de cursos de Varão ou Striptease à boa moda das meninas trintonas púdicas das equipas no ano 2010, com bolo de chocolate com cobertura de mousse a derreter-se na boca, após umas beringelas recheadas com arroz crioulo de chorar por mais, tudo regado por um bom tintol com cabeça de burro em tua memória, eu fiquei-me por um belo Gordon's, cousa muito ousada nos tempos que correm para uma quase Vovó com tantas responsabilidades em cima da cornadura. Em que se cortou na casaca de infindáveis figurões conhecidos sempre brindados com a bela tesoura assassina das línguas viperinas próprias de um jantar de amigas.Comemos, bebemos e rimos quase até às lágimas e tivemos muita pena do teu grande e belo nariz atormentado com tanto ranho. 

Volta Sininho, e assombra-nos com o teu brilho e com o teu sorriso vermelho de vinho, no próximo jantar.