20/10/2007

O inquietante silêncio

É verdade, o silêncio sempre me incomodou. O doloroso silêncio que surge recorrentemente entre dois amantes no início de uma relação, o prosaico silêncio de todos os dias com um desconhecido no elevador ou os breves silêncios que surgem a espaços com os amigos mais próximos quando simplesmente não há nada a dizer. Posso suportar injúrias, mentiras, sarcasmos e até humilhações. Mas não posso suportar o silêncio quieto. Em toda a minha vida nunca procurei a razão desta minha fragilidade, como tantas outras, e foi na minha incursão pela psicologia que encontrei a mais pláusivel explicação. Tão bem dita nas palavras de Coimbra de Matos: " o carácter inquietante do silêncio, escreveu Freud - ligando silêncio com a morte, e mostrando como no sonho e na lenda o silêncio aparece como símbolo do fim da existência; e adiantando que, desde a infância, o calar se entrelaça com a angústia de separação e a angústia de perda do objecto. É o silêncio da noite; é o silêncio da solidão.(...). É o silêncio do cemitério, do frio do mármore; com o sibilar acusatório do vento por entre os ciprestes."

4 comentários:

Teresa disse...

Belo texto. Gostei!
Percebo bem o que queres dizer com os silêncios incómodos...
Mas para mim, também há silêncios bem confortáveis, como aquele que pode surgir, por vezes, entre duas pessoas, quando atingem uma cumplicidade tal que o sabem saborear em vez de o tentar constantemente evitar.

Anabela et Jean Paul Duflot disse...

Marta
gostei muito do teu texto, eu tambem receio o silêncio.

sophia disse...

O silêncio "quieto" pode ser "inquietante"...pode traduzir a angústia do confronto com os nossos medos mais profundos que muitas vezes queremos a todo o custo evitar, e que por esse motivo nos levam a preencher todo o espaço com ruídos, com fugas para a frente, com uma parafernália de sonoridades que apenas abafam o nosso silêncio interior.
É verdade, nós tememos o silêncio, nós tememos a noite, nós tememos a morte, mas temos que compreender que não podemos evitar o silêncio, temos mesmo que o procurar, como espaço de reflexão, de interacção, de pausa, de auto conhecimento.
O silêncio é fundamental na música como na vida, é um espaço de pausa pleno de significados e mensagens a decifrar.

Teresa C Figueiredo disse...

Querida Marta,

Já pensaste quão poderoso é o silêncio entre 2 amantes que sem uma palavra, apenas num olhar transmitem toda a força da sua paixão ? E quão reconformtante é o silêncio entre amigos que mesmo na ausência sabemos que lá estarão se precisarmos deles, sem uma palavra, uma explicação ? O silêncio pode ser uma forma suprema de entendimento, quando as palavras nos atrapalham e não conseguem capturar verdadeiramente o que nos vai na alma.
E assim me estreei no maravilhoso mundo dos Blogs !