24/11/2008

O Professor de Português

E quando o nosso filho adolescente, um autêntico ( e irritante) nurd dos computadores, nos entra em casa a falar de literatura, a pedir livros novos para ler ( os "velhos", criam pó nas estantes), a requisitar Leão Tolstoi nas (abençoadas) bibliotecas municipais, a impingir-nos textos e artigos de opinião do Jornal de Letras, entrevistas de revistas de moda? A resposta é feliz, tem um professor ( com letra maiúscula) de português, comme il faut. Quando na primeira reunião de direcção de turma, alguns pais reclamaram dos temas abordados nas aulas de português não se restringirem à área da disciplina, comecei a perceber que os sinais eram de sorte grande! Um professor fora das normas, mas que consegue cativar uma turma inteira de alunos de ciências para as letras, que põe os meninos a fazer requerimentos a solicitar que seja este professor a dar as aulas de substituição, que põe o meu filho a ter Bom com distinção, e a ler, a ler! Quase que irrita, se não fosse tão bom, anos passados a interrogar os meus botões sobre qual foi o meu erro que não consegui cativar o meu filho para a leitura, após tentar todos os métodos, inclusivamente os da ameaça, pressão psicológica, gritaria e insultos! Leitora assídua e anárquica, desde que tenho memória, filha de Pai leitor compulsivo e de Mãe bibliotecária, partilho o prazer dos livros com os meus e considero um privilégio o prazer da leitura, uma janela aberta para o mundo, uma libertação das malhas mesquinhas do quotidiano, um sem fim de viagens e possibilidades. Este professor de Português, que tivemos a sorte de topar no caminho, e que é obviamente, uma carta fora do baralho, com doutoramento feito em Itália sobre a cultura portuguesa, O mito camoneao, sob a orientação e protecção da professora Luciana Stegagno Picchio, principal especialista italiana de Estudos Portugueses e Brasileiros, deveria ser clonado e espalhado pelos liceus de Portugal. É de professores marcantes, estimulantes e originais que os nossos miúdos precisam (e os pais também). No que me toca, tenho a agradecer duplamente, estou em estado perfeito de paixão pelos amores de Anna Karenine, mais precisamente pelos amores arrebatados de Kostia, ou Levine (alter-ego de Tolstoi) e Kitty e por Anna Arcadievna e o seu Conde Alexis Vronsky! Confesso, ainda não tinha lido esta obra maravilhosa, este romance perfeito, eterno e comovente. Não sei o que teria sido melhor, lê-lo aos 15 anos em plena inocência, ou mergulhar aos 40 em plena maturidade. Obrigado prof. Henrique, o seu trabalho é muito apreciado.

2 comentários:

Teresa disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Teresa disse...

Há dois dias que estava à espera deste post! Sabia que ias escrevê-lo tal o entusiasmo com que me falaste da Anne Karenine e do Professor de Português.
Um entusiasmo que contagia, reflexo do entusiasmo com que o teu filho absorve as aulas do professor e este último o partilha com a turma!
Que sorte a do teu M., e que sorte a tua, aproveitem!!!