17/08/2010

Os filhos do Carnaval


Já cá estava a faltar uma série assim.
O que é que o cinema do Brasil tem que nós portugueses definitivamente, não temos? Seja para televisão ou para o grande écran, a qualidade do cinema brasileiro é esmagadora. Eu sei que tem a chancela da HBO e tudo o resto, mas nem vamos comparar ...Imperdível, Domingo na RTP2 a seguir ao jornal das 10h00.

03/08/2010

O casamento dos pequeno burgueses

Ele faz o noivo correcto
E ela faz que quase desmaia
Vão viver sob o mesmo tecto
Até que a casa caia
Até que a casa caia

Ele é o empregado discreto
Ela engoma o seu colarinho
Vão viver sob o mesmo tecto
Até explodir o ninho
Até explodir o ninho

Ele faz o macho irrequieto
E ela faz crianças de monte
Vão viver sob o mesmo tecto
Até secar a fonte
Até secar a fonte

Ele é o funcionário completo
E ela aprende a fazer suspiros
Vão viver sob o mesmo tecto
Até trocarem tiros
Até trocarem tiros

Ele tem um caso secreto
Ela diz que não sai dos trilhos
Vão viver sob o mesmo teto
Até casarem os filhos
Até casarem os filhos

Ele fala de cianeto
E ela sonha com formicida
Vão viver sob o mesmo tecto
Até que alguém decida
Até que alguém decida

Ele tem um velho projecto
Ela tem um monte de estrias
Vão viver sob o mesmo tecto
Até o fim dos dias
Até o fim dos dias

Ele às vezes cede um afecto
Ela só se despe no escuro
Vão viver sob o mesmo tecto
Até um breve futuro
Até um breve futuro

Ela esquenta a papa do neto
E ele quase que fez fortuna
Vão viver sob o mesmo tecto
Até que a morte os una
Até que a morte os una

Chico Buarque
1977-1978

02/08/2010

Contos de Fada

Na alegria e na tristeza, na saúde e na doença...
Promessas de alegria e a certeza de muitas dificuldades.

Espanto-me e surpreendo-me estupidamente, quando vejo alguns casais que aparentavam uma enorme solidez a não sobreviver às dificuldades da vida em comum. É claro que basta olhar para o umbigo e sabemos perfeitamente que as aparência iludem. Que por detrás das portas fechadas, há sempre outra face muitas vezes dramática, da intimidade partilhada, das rotinas degradantes, das obrigações discutidas ao milímetro e negociadas com dureza, do pouco ou nenhum espaço que sobra para as fadas, da vontade quase irreprímivel de desaparecer sem deixar rasto e mandar tudo para as urtigas. Afinal a vida é só uma, cada dia que passa é irrepetível e aproxima-nos cada vez mais do fim da história e da diminuição das hipoteses de felicidade se é que ela existe em algum lugar. Mas apesar de tudo, continuo convencida que as amarras que fazem sofrer são aquelas em que mais podemos descansar. Se calhar nunca acreditei em contos de fadas, desde cedo preferi os thrillers psicológicos. Recuso o divã da análise, prefiro manter encerrado o baú traumatizante da infância, sei que é lá que está a chave para a compreensão da vida adulta e das suas opções duras e aparentemente nebulosas. Por mimetização ou por rejeição a fonte das nossas escolhas adultas é fruto da infância e dos nossos pais. E hoje e nos nossos melhores anos é essa a nossa principal função, ser pais. E depois?
O que é que esperavam? Telenovelas?
Já dizia o saudoso César Monteiro a propósito do "Branca de Neve"...