13/09/2009

A fortuna de Matilda Turpin

"Porque logo desde o princípio, desde os primeiros momentos do mútuo apego físico, decidiram adoptar a ideia rilkiana de que o casamento consiste em duas solidões que se respeitam e reverenciam mutuamente. (...) Implícita pois, nesta noção de solidão em companhia, esteve sempre a ideia do possível desenvolvimento independente de cada um deles. (...) E de facto a questão foi que ao fim de quinze anos, talvez um pouco menos, se tinham transformado nessa figura paradoxal, growing closer and closer apart. E aconteceu que, sendo, como sempre tinham sido, inteligentes e autoconscientes, quando a bifurcação dos dois projectos de cada uma das solidões se tornou real, já não havia nada a fazer, nada a a acrescentar, já estava tudo dito. Então por absurdo que pareça não falaram do assunto." Álvaro Pombo, Ed. D. Quixote.
Muito interessante este romance que ainda ando a descobrir, o emocionante desmontar de uma complexa estrutura familiar, que gira obsessivamente em torno da figura da mãe, personagem apaixonante e original, repentinamente ausente levada por uma doença súbita, mas que assombra todos, com a sua presença ora invocada ora indesejada, mas sempre omnipresente. A morte provocando o desmoronar das relações familiares, a revelação dos segredos, o final confronto com a verdade, o vazio dos afectos, os ressentimentos, os retratos escondidos de Dorian Gray. A ler, sem dúvida.
Agora que cheguei ao fim, acrescento, foi uma leitura bastante divertida, com algumas reflexões muito interessantes, embora às vezes a profusão de referências literárias e filosóficas tornem o discurso um pouco frustrante e hermético, para quem como eu tem uma muito vaga ideia do romantismo alemão, do existencialismo francês do niilismo...etc, mas compensa claramente o esforço. O lado divertido é que, inesperadamente, sem nos apercebermos como, o livro revela-se um thriller psicológico sinistro e não paramos enquanto não chegamos ao fim, em estado de choque. De 0 a 10, dou-lhe 7.

1 comentário:

Marta disse...

boa ainda bem que estás a gostar.

bjs