19/08/2009

De manhã o jardim é meu

Meu, meu e só meu! Numa manhã luminosa como esta, a luz faz resplandecer o rio como um espelho e eu esqueço-me dos pensamentos negros sobre o indizível que é estar em Agosto em Lisboa quando toda a gente está para fora a banhos. Crise? A cidade está abandonada aos estrangeiros e aos velhos. Velhos e velhas, e cães, e eu e o meu bebé. Aqui, encostada a um banco de madeira, com ele pendurado e entretido a seguir o vôo dos passarinhos ou o estremecer das folhas com a brisa de Verão, olho para a frente e vejo o mar da palha sem fim, olho para o lado e lá está a cúpula gigante de pedra branca, panteão dos grandes e artistas, mais atrás uma mole imensa, imponente e dominadora a lembrar os Filipes, está S.Vicente de traça maneirista, também panteão mas real, lá para trás o mercado de Sta. Clara, duvidosamente renovado e tristemente vazio, uma frente de casas apalaçadas e prédios antigos completam o ramalhete. O jardim é meu e foi arranjado a pensar em mim e nesta nova vida em que me encontro e nos primeiros passos que se avizinham e no triciclo e na primeira bicicleta que se seguirão. Claro que o partilho com dois ou três velhos, alguns estranjas e camones extasiados que caíram do céu aqui e não sabem como cá vieram parar, mas excepção feita às terças e Sábados em que a zona é invadida pela Feira da Ladra, apodero-me dele todas as manhãs com um sentimento de feliz proprietária e dou-me ao luxo de acreditar que é verdade, que as manhãs de Agosto no jardim me pertencem, pelo menos enquanto este belo segredo assim se mantiver.

1 comentário:

Teresa disse...

Adorei partilhar aquele nosso fim de tarde, no teu jardim :-)!
É LINDO e tu tens o previlégio de o poder usar como se da tua sala de estar de verão se tratasse!!!