12/09/2008

Antes que o Diabo Saiba que Morreste

Que chegues ao céu meia hora antes do diabo saber que morreste...

Um filme notávelmente construído e interpretado com uma história de família, quase vulgar...
Lembrou-me o Fargo dos irmãos Cohen, na construção da narrativa, sem o humor que tudo alivia e torna suportável as mais abjectas situações. É uma história cruel, que põe a nú a dinâmica de uma família, com os inevitáveis dramas, ódios, invejas e competições entre irmãos. A visão de Sidney Lumet é negra, negra e negra, os personagens que compõem a cena familiar são, à excepção da Mãe, vulgares, mesquinhos e gananciosos (a trilogia do feios, porcos e maus...). Philip Seymour Hoffman é brilhante na encarnação odiosa do mentor do crime, forte e inteligente, sedutor, manipulador e consciente da sua condição, Ethan Hawke (que desperdício de rapaz!) é não menos repugnante no seu papel de fraco, medroso e absolutamente incapaz de controlar seja lá o que for na sua vida, ex-mulher, filha, amante, cena do crime, o perfeito desatre.
Interessante, porque apesar do horror quase absurdo da história, faz-nos reflectir na violência e sofrimento inerente aos frágeis equilíbrios das relações familiares, nos estereótipos do irmão mais velho, que sofre na pele a exigência e dureza do primeiro filho, contrastando com a afectuosidade desculpante e superprotectora do mais novo sempre desresponsabilizado e superprotegido, pleno de afecto. A mulher/esposa objecto, interesseira, manipuladora dos afectos familiares, sem escrúpulos, jogando irmão contra irmão com a candura de quem brinca com a vida sem avaliar a consequência extrema dos seus actos, ou preversamente consciente.
Interessante, porque a delicada teia dos personagens é-nos apresentada em múltiplos planos, avanços e recuos, em expressões e olhares mudos que revelam as intenções sublliminares dos personagens, deixando-nos preencher os vazios e os silêncios. Interessante porque em contraste com os pais, que rapidamente adivinhamos fortes, estruturados e unidos por laços profundos, os filhos são profundamente solitários e desamparados à imagem da sociedade moderna.
A ver, sem dúvida.

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