24/08/2008

No vazio da onda. Trio e quarteto, R.L. Stevenson

Seguindo o conselho de Hugo Pratt em " O desejo de ser inútil, memórias e reflexões", fui à procura de Stevenson, um dos seus mestres e modelo. Após tropeçar em múltiplas edições infanto juvenis de muito duvidosa qualidade, encontrei esta edição da Assírio e Alvim na qual é fundamental uma atenta leitura da introdução. Para meu enorme espanto, descobri (santa ignorância!), que Robert Louis Stevenson é o autor do romance negro que deu origem àquele maravilhoso filme interpretado por Michael Caine na versão mais actual de 1990 , " O médico e o monstro", ou "o estranho caso de Dr. Jeckill e Mr. Hide".
Foi um escritor maldito, incompreendido no seu tempo, deturpados e mascarados os seus manuscritos, foram sistemáticamente vitímas da pena censória de "amigos" e até da própria mulher, que os moldavam às convencões da época os seus escritos "imorais". Fixou-se nas ilhas Samoa, paisagem paradisíaca, num Oceano chamado de Pacífico, mas que à imagem de Dr. Jeckill e Mr. Hide, esconde as piores tempestades sob um verde e azul perfeitos, que serve de pano de fundo à tragédia humana....
Não sei porquê, desde o início do romance, que na minha cabeça, se colou à figura do Comandante Davis, a figura carismática de Humphrey Bogart, se alguém concordar, diga. A acção desenrola-se sempre nesta dualidade entre o bem e o mal, entre a tentação do nosso tenebroso Mr. Hide e a salvação do Dr. Jeckill, a ambiguidade das duas personagens centrais, Herrick e Davis completa-se com a negritude e abjecção total da terceira personagem, Mr. Huish. O lado solar e o domínio das sombras, numa história empolgante que nos arrasta pelo mar das Caraíbas entre piratas e homens perdidos, carregamentos roubados, tesouros de pérolas e ilhas maravilhosas que não aparecem nos mapas até encontrar um porto de Salvação, ou não...

Sem comentários: