14/07/2008

Funny Games - Jogos Perigosos

Somos tragados desde o primeiro instante pela acção que revela logo um nível quase insuportável de violência, explicitado de forma magnífica na banda sonora que alterna em nos provocar estados opostos consoante o desenrolar da acção, canto liríco ou trash metal.
Canto liríco para as vitimas, trash metal para os psicopatas.
O realizador conduz-nos não a um estado de sobressalto mas a um sentimento ambíguo de culpa e de voyeurismo, em que somos envolvidos pelos agressores psicopatas como o objecto final para o qual eles preparam minuciosamente o quadro do horror, temos que agradar ao público? E olham-nos directamente nos olhos, sorrindo com cumplicidade. É aqui que o filme faz a diferença, questiona-nos como espectadores ou como consumidores do espectáculo da violência.
É um remake de um filme do mesmo autor mas em espaço fisíco diverso. Não vi o de 1997, infelizmente. Passamos da Áustria para a América, apesar do tema ser universal, parece-me que o requinte de malvadez dos personagens é muito europeu, para mal dos nossos pecados.... Em muito pouco ou nada se assemelham com Hannibal ou com as figuras retratadas pelos irmãos Cohen, esses francamente autócnes. É inquietante e perturbador, porque retrata a violência na sua forma mais perversa e incompreensível, não há mais nenhum motivo palpável do que o comprazimento dos carrascos na humilhação das vítimas, e na sua tortura, tudo é leve e divertido no sofrimento alheio, tudo é um jogo infantil, o jogo do gato e do rato, o jogo do saco e do rato, o da esposa dedicada, até deixar de apetecer para ter início outro, com novas vítimas. Muito interessante, a ver, para quem suporta o género.

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