07/04/2008

Autópsia de um crime

Michael Caine e Jude Law num confronto perverso, uma proposta indecente, uma partida em três set's, uma peça em três actos encenada por Harold Pinter, num remake de um filme já com mais de trinta anos, em que os protagonistas eram Sir Laurence Olivier e o próprio Michael Caine.Não vi o primeiro, mas agradecia uma reposição urgente no Nimas, por favor! Esta versão do filme é teatro, e do melhor! Para os apreciadores, é de sublinhar como o espaço arquitectónico, uma casa de campo do séc.XVIII, renovada com modernismo e protagonizando o paradigma da Casa Inteligente, se associa à personagem do escritor revelando o seu maquiavelismo e o requinte manipulador do seu carácter. A casa constitui, para mim, uma espécie de alter-ego do personagem, um palco perfeito com as suas escadas brutalistas e fragmentadas, os espaços mutantes, os segredos, o elevador transparente e canal de passagem pleno de constrangimento e suspense sobre o passo seguinte. A lareira lindíssima, as paredes que se transformam em passe de mágica consoante a mudança de luz, adquirindo propriedades reflectoras em planos infinitos. O contraste absoluto entre o exterior e o interior. E a presença nunca revelada, a não ser indirectamente por uma fotografia e pelo telefone, do terceiro personagem, aquela que é o centro do trio amoroso.
Uma magnífica comédia negra a não perder, absolutamente.

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