02/12/2007

The comfort of Strangers

"Acordaram ao mesmo tempo, ou assim lhes pareceu, e permaneceram imóveis nas camas separadas. Por razões que já não conseguiam definir com clareza, Colin e Mary estavam amuados. (...) Ainda mergulhada no que restava dos seus sonhos, Mary virou-se de lado quando ele passou e fixou o olhar na parede.(...)
Mas conheciam-se um ao outro tão bem como se conheciam a si mesmos, e a sua intimidade assim à semelhança de malas em demasia, era uma preocupação constante; juntos caminhavam devagar, de uma maneira inábil, tomando lúgubres compromissos, atentos a delicadas variações de humor, desfazendo mal-entendidos. Individualmente não eram susceptíveis, mas juntos conseguiam ofender-se um ao outro de formas surpreendentes e inesperadas, o ofensor-isto tinha acontecido duas vezes desde a sua chegada- ficava irritado com a susceptibilidade excessiva do outro, e ambos continuavam a explorar becos tortuosos e praças inesperadas, imersas em silêncio.(...)
Ela amava-o, embora não nesse momento particular."
Ian McEwan 1981

2 comentários:

paula disse...

Que texto tão particular e tão saboroso...reconheço alguns cheiros e movimentos, ou talvez tôdas as pessoas reconheçam...bom cheguei apensar que o tinhas escrito querida Sofia.

sophia disse...

Obrigado Paulinha, quem me dera, ter sido eu a escrevê-lo!
Mas já é muito bom poder apreciá-lo. A ler e reler, sempre com muita emoção.
É um conhecedor notável da subtileza do relacionamento amoroso.