15/12/2007

100 anos de Oscar Niemeyer II

Autodefinição
Na folha branca de papel faço o meu risco,
Retas e curvas entrelaçadas,
E prossigo atento e tudo arrisco
Na procura das formas desejadas.
São templos e palácios soltos no ar,
Pássaros alados, o que você quizer.
Mas se os olhar um pouco devagar,
Encontrará, em todos, os encantos da mulher.
Deixo de lado o sonho que sonhava.
A miséria do mundo me revolta.
Quero pouco, muito pouco, quase nada.
A arquitectura que faço não importa.
O que eu quero é a pobreza superada,
A vida mais feliz, a Pátria mais amada.
Um abraço,
Oscar.
É hoje mesmo, dia 15 de Dezembro que Oscar Niemeyer celebra 100 anos de vida,Parabéns Oscar!
Para além do génio e do artista, está o homem e a sua dimensão social, e é aqui que ele ganha realmente densidade, pois o seu discurso está centrado no Outro, na luta pelos irmãos brasileiros pobres, por uma sociedade que é cada vez mais desigual, e quando o ouvimos hoje, celebrando uns magníficos 100 anos de vida ( Parabéns!), Oscar mantém o enfoque e a autencidade dos verdes anos.
No Domingo passado o Câmara Clara, debruçou-se sobre Brasília e Oscar Niemeyer, tinha por convidados Helena Roseta e Manuel Graça Dias. Falaram muito sobre a desumanização da Cidade idealizada para a dimensão automóvel, sobre os bairros periféricos paupérrimos que crescem como cidades satélites, mas perderam talvez a qualidade central do projecto, o projecto utópico de cidade do século XX realizado no Novo Mundo. Utopia social e política em construção permanente, consubstanciada em Poesia Arquitectónica, em traços e riscos que crescem em construções esculturais. A oportunidade talvez última, em que a determinação de um projecto político permitiu a um Arquitecto, conceber uma Nova Cidade Barroca, um palco do Poder Representativo.

2 comentários:

Teresa disse...

Lindo poema, não conhecia!

Ontem vi o Oscar Niemeyer a ser entrevistado. Retive a sua resposta a uma pergunta de um jornalista. Disse qualquer coisa parecida com isto: "...eu não passo de um homem comum que chega cá, faz umas coisinhas, chega um dia, vai embora e acabou..."

Não acredito!

Há homens que não vão embora nunca, nem quando morrem, porque deixam cá tanto de si (e falo neste caso do que conheço, da obra construida)que simplesmente se tornam eternas.

Marta disse...

Não conheço Brasília, mas tenho imensa vontade e hoje ao ler o Rui Tavares no Público fiquei ainda com mais, diz ele " Brasília será menos bela do que Veneza ou Rio de Janeiro? Sim. Mas é certamente mais agradável, equilibrada e, se quiserem, humana do que Casablanca ou Dallas." e ainda "Os edificos mais importantes da nova capital brasileira... vão do sublime ao excelente e interessante, da catedral ao congresso e ao novo museu dando origem a um acidade percorrida toda ela pela mesma linguagem, harmónica e espaçosa."